sexta-feira, 2 de julho de 2010

Quase dois meses depois...

Desculpem a falta de notícias.
Ele está bem, esta tudo a ir bem.

Muitos ligaram, outros aguentaram a espera, outros ainda ligaram a terceiros, para saber o que se estava a passar. A todos, agradeço a espera e a preocupação.
Aos que me ligaram directamente e a medo, agradeço e soube bem, percebi que realmente, mais do que o que eu pensava, todos acompanhavam o blog e que na ausência de noticias, ficaram sem saber onde ir.
Foi bom ouvir a vossa voz e a vossa preocupação.

Muita coisa já aconteceu entretanto, vou tentar sintetizar.

Ele fez a última quimio, correu muito melhor do que o esperado, a reacção dele foi muito positiva e até nem tomou o comprimido que o faz estar meio adormecido na hora do tratamento.
Numa das nossas idas a Coimbra conhecemos o G., de apenas 17 anos, que também tem um linfoma de Hodgkin e que esta no início dos tratamentos.
Nesta altura do campeonato, estando nós a acreditar que o D. estaria nos fim dos tratamentos, era importante transmitir, pelo menos ao G., que isto é difícil, mas que se tem de aguentar e foi isso que acabou por lhe dar a motivação para não tomar o medicamento e assim estar bem disposto para falar com o G. Quem nos dera a nós que quando começamos ali, tivesse aparecido alguém, mais novo, a quem pudessemos ter feito perguntas, ter esclarecido dúvidas do nosso dia-a-dia e foi isso que ele tentou fazer e isso fê-lo sentir-se bem.
De tão positivo que estava, na tentativa de dar força ao G. e na esperança de que este seria o seu último tratamento, aguentou-se tão bem que nunca vomitou, nem lá, nem em casa, nem em momento algum. E as veias também colaboraram e aguentaram-se bem.

Acabado este tratamento, cerca de uma semana depois, fomos ao Porto fazer a PET, a 26 de Maio, que viria a dizer se continuaria a quimioterapia ou se passaria para a radioterapia.

A consulta foi no dia 1 de Junho e tivemos a maravilhosa notícia de que a PET apresentava resultados muito bons e que seria encaminhado para a radioterapia.

Neste dia, foi um misto de emoções, embora muito felizes, muito confusos também, não é bem coisa que dê para explicar. Após tantos meses, de quinze em quinze dias ter uma terça feira tão dura, uma semana tão dificil, de repente a ideia de não a ter, não fazer tratamento, nao haver enjoos, não haver vómitos, não haver dores, era igualmente assustadora.
Dá para entender? Não, não dá.
Então quando nos é dito que, aquele monte de medicamentos que estão por cima do frigorífico não são para tomar, fica uma dúvida enorme, um medo que até agonia, dá apenas vontade de perguntar "Mas tem a certeza?!..."
É tudo muito confuso.

Por um lado é o que mais queriamos, mas é claro, mas por outro começam as dúvidas, as incertezas, o não acreditar nos médicos e nos exames, o meter tudo em causa.
Demos por nós a vir embora, a dar graças a Deus por ter passado esta etapa, mas depois cheios e medos e questões sobre se estaríamos mesmo livres desta parte.
Quando devíamos ter tido medo, tivemos coragem, muita coragem, agora que devíamos ter coragem, estamos é cheios de medo, muito medo mesmo.
Viemos então para casa, num misto de risos e lágrimas, mas esperançosos, muito esperançosos.

O G., por sinal, começou nesse dia, nesse mesmo tratamento, a sentir os tão indesejáveis efeitos secundários que ele tanto tinha ouvido falar, mas que ainda não se tinham feito sentir com a intensidade que ele já sabia que ia acontecer.
Força G., força Mãe A., estamos a torcer por vocês e iremos visitar-vos em breve, conforme combinámos.

Com todas estas boas noticias deveríamos ficar aos saltos de alegria mas isso não nos aconteceu, o sucesso do tratamento foi inversamente proporcional ao nosso estado de espirito e por isso à medida que as coisas foram correndo melhor, nós fomos ficando um bocado em baixo, estamos muito cansados e ansiosos.
Ficámos, sensíveis, implicativos, intolerantes e impacientes.

Eu, pessoalmente, tentei agarrar-me à última chance de terminar a licenciatura este ano, na maioria por exames, mas isso sempre me deu uma motivação extra, ele por seu lado, está ali a lutar com algumas dificuldades de voltar a rotina e anda meio à deriva.
Eu demorei muito a decidir o que ia fazer, mas resolvi tentar acabar, pelo menos tenho a cabeça noutra coisa e já não somos dois à deriva...
Obrigada à Su e à Pipa que não me deixaram desistir, nem quando eu queria, arrastaram-me à força!:)

Foi então chamado para a consulta de radioterapia, nos HUC e após análise da situação decidiram fazer 18 sessões de Radioterapia, tendo começado no dia 23 de Junho e com fim previsto para dia 16 de Julho.

A radioterapia consiste num tratamento à base de radiações capaz de destruir células, a dose de radiação é pré-calculada num determinado tempo e numa determinada zona. O objectivo, no caso dele, visto que o tumor, a massa maior é no mediastino (no peito), é queimar o tumor para que se no seu interior existirem ainda células anormais ficarem totalmente destruídas e não voltarem a reproduzir-se. É chamado um tratamento de consolidação, de reforço, ao que parece a taxa de reicidivas (reaparecimento de cancro) em indivíduos que não fazem radioterapia como tratamento de consolidação comparada com os que fazem é reveladora de que o radioterapia é fundamental para eliminar ao máximo a possibilidade de recaídas.

Sabemos tudo isso, encaixámos esta nova rotina e ele lá vai, todos os dias para Coimbra, às 17:30 com os Bombeiros, para fazer este tratamento às sete da tarde. Ccomo o tratamento dura apenas breves minutos, volta logo de seguida para casa, mas todos os dias é uma estafa.
Mas o ânimo continua muito em baixo.
Desta vez não o posso acompanhar, temos as miúdas e como é todos os dias não dava para conciliar, mas sempre que dá vou eu ou vai a S., a nossa filhota mais velha que já gosta de fazer parte e acompanhar o Pai.
Eu continuo agarrada ao computador e aos livros e aos trabalhos, ele continua meio perdido. Estamos a tentar conciliar tudo...

Temos tido uns belos momentos e umas belas patuscadas entre amigos e familia, vocês sabem quem são, obrigado pelos momentos maravilhosos que temos passado.

Não temos ainda vontade de comemorar, também ainda não é tempo disso, ainda não acabou. Esta quarta fui com ele, pois às quartas tem consulta de radioterapia, para além do tratamento.
Estavamos a começar a arrebitar, a ficar mais animados, mas acabamos de perceber que ainda estavamos a meio de um caminho dificil, na outra consulta o Dr. M. não quis dizer logo o que se iria passar no futuro, desta vez já nos disse, pois é necessário que ele começe a fazer uma medicação de "prevenção".
Então o que nos foi dito foi que o tratamento que ele esta a fazer não é brincadeira, pois normalmente a área que é irradiada não é tão grande, no caso dele apanha uma grande parte do esófago. Básicamente, o que vai acontecer é que para além do cansaço extremo, que ele já sente, a azia, que dá cabo dele, a pele queimada na zona onde faz o tratamento, vai ficar com o ésofago queimado o que significa qu até a água vai doer bastante a passar, vai portanto passar um mau bocado e provavelmente deixar de comer porque vai começar a doer imenso. Mais uns 5 tratamentos e começará a sentir tudo isto. O tempo que os sintomas demoram a aparecer demoram o mesmo, vezes dois, ou seja o dobro do tempo, para desaparecer. Por isso, quando ele acabar este tratamento vai estar, fraco por causa do tratamento e por não conseguir comer devidamente, mais magro e muito cansado e num geral muito em baixo.

Quem é que consegue animar agora?
Não está fácil, não está fácil amigos... mas nós estamos a tentar e a dar o tudo por tudo.

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