sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Como tudo começou - O primeiro diagnóstico

Foi em Junho que tudo começou. Fomos jantar ao restaurante chinês, com uns amigos e respectivos filhos. Ele enquanto comia, bebeu dois goles de vinho e sentiu-se muito mal disposto, começou a transpirar e a queixar-se de uns caroços no pescoço e de dores "nos ombros".
Já tinha feito, a dada altura, referência a isto, que numa das suas viagens, num Domingo de descanso, bebeu uma cerveja com uns colegas e que se sentiu muito mal. Claro está, que eu brinquei imenso e chamei-o de fraquinho... afinal, não estava habituado a beber e eu pensei que tinha sido um episódio sem importância.
Mas neste dia, neste jantar, entendi que a coisa não era brincadeira nenhuma, pois ele, um gajo que nunca quer ir ao médico, levantou-se, pediu-me para ficar no restaurante, com os nossos amigos e as nossas filhas, e decidiu ir rapidamente ao SAP para poder mostrar os sintomas que tinha e tentar entender o que se passava.
Se depressa foi, mais depressa voltou, foi-lhe diagnosticado espasmos musculares.

Não satisfeitos, resolvemos fazer uma experiência e ele, numa das suas viagens, levou duas cervejas, uma com e outra sem alcool.
Feita a experiência não restaram dúvidas que a dor que ele sentia tinha mesmo a ver com o consumo de alcool. Nessa altura até pesquisamos na net, mas não deu nada.

Em Agosto, voltou a ir ao SAP, pois de regresso de mais uma viagem trazia um braço inchado. Era uma Sexta-feira, no dia a seguir era Sábado, 15 de Agosto, feriado portanto.
O médico que o atendeu explicou que mandá-lo para o Hospital para fazer análises a uma Sexta-feira à meia noite ( que foi a hora que ele chegou), véspera do 15 de Agosto, altura de férias não era boa ideia, pelo que, o mandou fazer análises num laboratório na Segunda-feira seguinte mas, pelo sim, pelo não, considerou aquilo como um episódio alérgico e medicou-o nesse sentido.
Foi novamente em viagem logo após fazer as análises.

Dia 21 de Agosto, no regresso de mais uma viagem, e por sinal a última que fez desde então, mão, braço, ombro, costas, completamente inchados, vermelhos, com as veias salientes e com a zona afectada muito quente.
Voltou ao SAP, o médico, consciente, disse-nos suspeitar de linfedema, que é uma infecção no sistema linfáctico, mas considerou que, a olhar não poderia tirar conclusões pelo que, encaminhou-o para o Hospital de Leiria para fazer análises.
No hospital, o médico que o atendeu decidiu que a olhar, somente, podia fazer diagnóstico e por isso análises para quê...
Fez um tratamento endovenoso, ou seja uns medicamentos directamente na veia, recomendou repouso, braço ao peito e ir à médica de familia para pedir baixa médica e investigar.

Dia 23, piorou e muito, voltámos ao hospital, conforme nos tinha sido indicado.
Após uma troca acesa de palavras com o médico, que dizia que "aquilo" não era urgente, ele perguntou se, o facto de inchar mais e doer imenso, após 2 dias de repouso absoluto era normal. Lá resolveram, pela primeira vez, fazer umas análises ao rapaz.

Até aqui tivemos "sorte", pois mandaram-nos esperar 2 horas na rua e ao fim de 30 minutos de passearmos no estacionamento, voltámos para a sala de espera e fomos recebidos por um segurança, que se dirigiu a nós a perguntar onde é que tinhamos andado e que tinhamos tido "alta por abandono"...
Após mais uns encontros e desencontros e troca de palavras menos bonitas com toda aquela malta gira e simpática, lá veio uma querida enfermeira que assumiu a culpa e explicou que tinha sido ela quem nos tinha mandado aguardar 2 horas lá fora. Afinal, afinal!

Novo diagnóstico, Trombose Venosa Profunda de uma veia do membro superior esquerdo, (TVP do MSE) que é como quem diz uma veia entupida com um coágulo no braço esquerdo, a confirmar com eco doppler dia 25 de Agosto. Foi medicado com injecções que passou a ter que dar a ele próprio e varfine, tudo medicamentos para tornar o sangue menos espesso e impedir que coagule.

Dia 25, após a confirmação por eco doppler, foi transferido para Coimbra para o HUC, para ser seguido. Tudo indicava ser um episódio passageiro, um esforço excessivo mal feito, mal calculado poderia ter causado o coágulo, pois de resto nada mais havia, não é obeso, não pertencia a grupos de risco, os valores do colestrol estavam dentro dos parâmetros normais, em principio não indicava ser mais nada.

Dia 3 de Setembro, voltaram a aparecer os "caroços" no pescoço. Fomos directos ao hospital, tivemos a sorte de encontrar a Dr. S., uma amiga. Para nós foi uma sorte, para ela... foi dificil. Detectar um problema destes em qualquer pessoa, é duro, quando a pessoa é conhecida do médico é ainda pior.

Fez ecos, mil analises, RX, ECG.
Falou-se em "adenopatias" e "biópsia às adenopatias".
Foi feita no dia 10.
Algures aqui no meio foi feito um TAC, já não me lembro.

Entretanto recebemos um telefonema da S., a biópsia não deu para ver nada e encaminhou-nos para o HUC, para uma consulta com o Dr. J.B. um cirurgião cardiotorácico.

Aí fomos nós, munidos de tudo o que era exame e com um CD que continha o TAC.
Entrámos na sala, o médico leu a carta que os colegas de Leiria lhe enviaram e fez-nos várias perguntas. Num geral, não tinha os sintomas mais comuns.
Ele explicou ao médico o que se tinha passado com o braço, e depois de já ter falado a todos os médicos na questão da dor devido ao consumo do alcool, resolveu arriscar, porque foi mesmo e, disse um bocado sem segurança, que a única coisa que sentiu mesmo diferente, foi a intolerância ao alcool, que não tendo por hábito beber não tinha problema mas não deixava de ser estranho essa mudança.
Aqui reparámos que pela primeira vez um médico sabia exactamente do que estávamos a falar.
Então, de costas para nós, meio de lado a ver o TAC no computador, diz:
- Pronto, está confirmado.
Nós olhámos um para o outro e dissemos:
-O quê?... Confirmado o quê? Ainda ninguém nos disse nada....
- É um linfoma!
-Um quê?!?
-Linfoma, um tumor.
Aí, eu meio perdida e desesperada perguntei:
-Mas um tumor como? Onde? Há tumores benigno e malignos, certo?
Porque nesta altura só me lembrava da minha irmã que teve um tumor benigno num braço que foi só tirar e pronto.
Ao que o médico me responde de uma forma muito dura:
- Vamos lá ver se a gente se entende! O que o senhor tem é um tumor, maligno, no sangue. Um cancro. Agora, não desespere, é o melhor que lhe podia ter acontecido!
- Como assim?!?!
-É dos mais tratáveis, com bons prognósticos e que respondem normalmente muito bem às terapêuticas, e que a grande maioria curam-se como se de uma pneumonia se tratasse, acabasse com ele e pronto! Olhe e tenho tempo agora, quer fazer já uma biópsia?
Ainda lhe perguntei, estúpidamente:
-Mas tem a certeza?

(...)

Em menos de dez minutos o nosso mundo desabou, não nos deram tempo de olhar um para o outro, ele entrou numa sala e com anestesia local retiraram parte do gânglio para
analisar. Ele mal abriu a boca. Acho que bloqueou.

Fiquei cá fora sózinha e senti-me realmente sózinha.
Liguei aos amigos, familia.
Chorei este mundo e o outro.

Era dia 15 de Setembro, irónicamente o DIA MUNDIAL DO LINFOMA.

1 comentário:

  1. Pois---Nós temos que ajudar os medicos, nós temos que ENSINAR os médicos, nós temos que EXIGIR dos médicos , e este amigo não fez nada disso, acreditou sempre em tudo o que lhe disseram, e deixou passar tempo...tempo...tempo esse que âs vezes não temos.Já tive 3 cancros e sei bem do que falo, por isso digo sempre que a minha 2ª casa é o Hospital dos SAMS(bancários) que tem muitos e bons profissionais...por isso ainda cá estou...

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